quinta-feira, 5 de março de 2009

Da série "pare o mundo que eu vou descer"

Uma criança em São Paulo/SP é jogada pela janela do apartamento pelos pais; não se sabe ainda o motivo, se é que houve algum.

Uma adolescente é presa em uma delegacia do interior do Pará junto com homens que a estupram diversas vezes; instado sobre o motivo do ocorrido, o delegado diz não saber a idade real da adolescente, esquecendo-se do problema principal: uma menina no meio de homens. Para piorar, o delegado afirma acerca da adolescente: “é débil, desequilibrada”, ou qualquer coisa do gênero, pois não informara a idade real no ato da entrada na prisão.

Uma menina pernambucana de 9 anos é estuprada pelo padrasto. Descobre-se sua gravidez de risco. O hospital, cumprindo a lei, faz o aborto dos gêmeos. O padre, cumprindo o mal cheiroso direito canônico, excomunga os médicos e a mãe da criança pela “violência” com que trataram o feto mal formado, mal sabe ele, também num útero mal formado. Na sequência, o pároco diz ser o aborto mais grave se comparado ao estupro; segundo a lei, Código Penal, este é crime contra a liberdade sexual e aquele crime contra a vida. Detalhe: o padrasto não foi excomungado pela igreja. É o "estupra, mas não aborta" em versão mais cruel.

Diversas crianças da cidade de Catanduva/SP são vítimas de uma suposta rede de pedofilia. Há muitas dúvidas ainda sobre a autoria dos supostos delitos. Entretanto, depois da repercussão, ao tentarem voltar às aulas e à vida normal, tais crianças são vítimas das “brincadeiras” de seus colegas de classe: “mulherzinha, mulherzinha” é um dos exemplos de epítetos dados às vítimas.

Uma “pop star” americana apanha severamente do namorado, também “pop star” e também americano, de forma a ficar com os olhos inchados e o rosto deformado. Posteriormente, ela perdoa o namorado, que promete comprar “muitos presentes” para mostrar seu arrependimento e seu “amor renovado”.

Uma mulher nordestina, não me lembro agora a cidade de seu nascimento, apanha seguidas vezes do marido a ponto de ter recebido tiros nas costas, ficando tetraplégica. Informa a polícia, que diz “não poder fazer nada”. Tempos depois, no Congresso Brasileiro, é aprovada uma lei de proteção às mulheres, que leva seu nome.

A crise financeira avança e se cogita salvar bancos, seguradoras e montadoras de automóveis e as cifras da ajuda governamental já passam dos trilhões (só pra lembrar: doze zeros, 000.000.000.000); mesmo em crise, altos executivos e diretores continuaram recebendo astronômicas gratificações e "bônus de desempenho" ao custo do aumento do desemprego na linha de produção. O aumento dos aposentados e pensionistas brasileiros que recebem o salário mínimo é de 50 reais; em Davos na Suiça, alguns artistas, entre eles Bono Vox e Sharon Stone, prometem ajuda de alguns milhares de dólares para ajuda humanitária para um país africano, verba insuficiente para acabar com a fome, desnutrição e a falta de educação e saúde; alguns governadores brasileiros entraram na Justiça contra o salário mínimo de 950 reais para os professores da rede pública. A desproporcionalidade dos valores citados é brutal.

Os exemplos são muitos; passe os olhos pelas notícias dos últimos meses e analise.

O progresso material não nos fez mais civilizados, nem agora, nem nunca.

Talvez Hannah Arendt explique a maldade e a crueldade humanas.

Que Deus nos salve, porque perdidos já estamos.

Alguém mais inconformado por aí?

2 comentários:

Deisezinha disse...

Por isso meu caro, que sempre digo, este não é o mundo de Deus, mas sim o que nos fizemos com o livre arbítrio que ele nos deu... Muita merda.

Fernando A. Medeiros disse...

Este eu li. Como diria Saulo: Bruutu.