sexta-feira, 17 de junho de 2011

Palavre(rr)ado

As palavras vêm e(m) vão,
quando querem, somem.
Se soltam,sem amarras.
P-r-e-n-d-e-m-se, "amarr-ao-se".

Dia, noite. Adentro.

Aquela casa destoava das demais daquele bairro; primeiro porque o corpo da casa principal não ocupava todo o terreno, mas apenas o fundo. Segundo, porque era alta e possuía janelões frontais coloniais, com ares rupestres, azuis e com detalhes em branco. A cor predominante da fachada era o vermelhidão. Não era uma casa grande, mas era confortável, com luz e ventilação naturais.

Ali se viam cortinas alvoroçadas pelo vento que passava casualmente e se notava um rapaz, digitando qualquer coisa em seu minicomputador.

Engraçado perceber que o pouco barulho produzido naquela tarde indecisa de terça-feira, inquietava-o. Aliás, assim como qualquer outro barulho.

Jovem de altura mediana, nem gordo, nem magro. Nem bonito, nem feio. Atento à tela, por vezes, deixava sua cadeira para observar o pequeno quintal de árvores temporãs, tal como ele.

O olhar descuidado não percebia o que se passava ao redor, concentrado que estava em uma frase de Machado de Assis, extraída do conto “Um apólogo”:

“ - Também eu tenho servido de agulha para muita linha ordinária”.

A tarde cumpriu seu destino e se foi. A noite veio, trazendo consigo a escuridão, o vento frio e ares mais mundanos e complexos. As janelas se fecharam, as cortinas deixaram de farfalhar. As árvores verdes se enegreceram e houve luz na casa. Um mundo novo, tenso, se seguiu.

O alinhamento da órbita das estrelas foi difícil, mas se quiser navegar na amplidão, tem que passar o Bojador, além da dor.

No dia seguinte, descansou. Vendo o acontecido, viu que fora bom.