segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Canto n° 05

Microconto do amor à beira da crise.


Era uma vez uma menina magra, muito magra, tão magra que parecia flutuar no ar.
Era uma vez um menino muito desiludido, tão desiludido que não queria nem mais sonhar.
Era uma vez uma história, tão real, que está aqui, ainda, no peito. Ela quer sair, emergir do mundo das idéias e virar coisa palpável, com gosto, calor, lágrimas, cheiros e calafrios.
E "era uma vez" deve ser definitivamente esquecido.
A história é agora.
Pois é feita na vida diária, na busca incessante pelo porvir melhor, quase próximo, dizem as más línguas, talvez após a enésima-crise-econômica-social-do-juízo-final-do-pós-nada.
Feita por ambos, com sofreguidão, espasmos, gritos, gemidos curtos e sussurros longos.
E da última hecatombe atual, donde diziam não haver mais nada a acrescentar na humanidade implodida, renasceram.
Ela continuou flutuando, não no ar, mas nos sonhos dele.
Ele voltou a sonhar, no ar e no corpo dela.

Um comentário:

Fernando A. Medeiros disse...

Grande prosa poética. Já experimentou escrever uma história de pura fantasia? Que o absurdo vire personagem e venha invadir as nossas ruas! Crème de la crème!