domingo, 14 de junho de 2009

Canto n° 07

Homero ajoelhou-se no centro da sala e pensou no amor perdido, na noite enluarada, na brisa que entrava pela janela. E morreu assim, ouvindo a canção “eu quero estar com você, até nós sermos um só, até meu corpo saber o seu de cor, até jamais saciar...até meu rosto enrugar...”

Era um sábado à noite, frio, de opções natimortas; o aparelho de som ainda reproduzia, na voz contralto, rouca e sussurrante “eu quero estar com você...”

O coração permanecia na mesma temperatura corpórea e seu tamanho era sutilmente maior ao tamanho em vida; sangue ainda podia ser observado pelas portas, janelas e paredes. Expelido das veias e artérias próximas ao coração, sangue jorrando forte e veloz.

O sangue escorrendo caudaloso, vivo, sedento, a partir do coração na derradeira pulsação, continuou sua saga, percorrendo toda a cidade, na atmosfera, entrou na rodovia, chegou ao litoral e viu a onda perdida, batendo nas pedras.

Ali apenas o choro, misturando às lágrimas, sal, areia, ondas e pedras. E todos ao fundo do oceano, unindo-se aos ectoplasmas da vida oceânica.

A broca da empresa petroleira parou de funcionar ao bater em um achado geológico: uma multidão de peixes e plantas, toda a fauna e flora marinhas, alimentando-se de uma formação indefinida, multicor, multiforme, de onde saíam lágrimas e sangue em ondas vertiginosas.

Nenhum comentário: